domingo, 8 de fevereiro de 2009

Blog encerrado, pelo menos temporariamente.

Passo a contribuir agora com o Poema Dia, todo o dia 17 de cada mês.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Carta a Charles Bukowski

foto: www.semdesesperos.zip.net
Ah, querido poeta,

querido amigo de madrugadas inquietantes,
detentoras de nossos medos e ansiedades.
De seus escritos em páginas úmidas,
ou de fundos de copos de vidro grosso.

Os vinhos que conhecemos
não seriam os mesmos sem ti.

Deitemo-nos com essas mulheres que nos fazem sorrir:
aquele sorriso amargo, nostálgico,
de observadores da vida, presos a ela,
vítimas de suas mãos leves e delicadas
que nos acariciam com película,
e se vão...

Ah, querido poeta,
deixemos a noite baixar com suas nuvens e ventos.
Esperemos por ela aqui, sentados,
olhando nossos discos na estante,
a poeira se impregnar nas esquinas da sala,
a escuridão tomar conta do ambiente,
a vida se exaurir devagar.

Entreguemo-nos a essas garrafas negras,
fiéis amigas, mais que todas:
aquelas que permanecem ao nosso lado,
que não nos deixam,
que são solidárias com nossas alegrias e tristezas,
que nos amam, que nos querem,

sempre,

com suas mãos na nossa nuca
e nossas cabeças em seus colos.

Ah, querido poeta...

As desgraças da vida são tão mais belas em seus versos
que penso se neles não poderíamos permanecer eternamente,
como queríamos que fosse em braços macios
ou em garrafas negras, de vinhos amargos.

sábado, 10 de janeiro de 2009

- Faz tempo que estás aí?

- Faz... Estou aqui desde cedo, mas não tem problema: foi como se tivesse recém chegado. Dormi pouco essa noite, daí, vim pra cá.

- Tu andas dormindo pouco, e passando mais tempo aqui que em casa, tomando esses cafés frios. Por isso não dormes. Andaram me dizendo que tens saído daqui quase ao meio-dia, com o sol a pino.

- É, mas pouco importa. Em casa, faria o mesmo, perdido em pensamentos. Ao meio-dia, os cafés começam a fazer mal ao meu estômago, e o almoço está mais próximo que o desayuno. Troco um pelo outro.

- Haha... Entendo. Bem, vou pedir um café também, mas vou acompanhá-lo por um pão de queijo, pois meu estômago não é tão forte quanto o teu.

- Fazes bem. Senta-te, ainda falta para a hora do almoço, e me deste a idéia de pedir algo para comer também. Algo doce, porém.

- Pois peça. Mas então, o que tens feito nesses dias? Estavas viajando?

- Que nada. Tenho passado as manhãs nessa padaria, as tardes em casa, suportando o calor, escutando música e esperando a noite chegar... E às noites, tenho ido àquele bar, perto do porto. Essa época do ano é horrível: ninguém na cidade, comércio fechado, bares vazios e cervejas caras. Natal, por exemplo, nem sei por que é feriado, se não há nada para se fazer.

- Realmente... Bem, eu o passei com a minha namorada: fui para a casa dos pais dela, no interior do estado. Foi bom, nos divertimos, comemos bastante...

- Ter namorada nos faz perder o prazer de tomar cafés frios em padarias, em manhãs de terça-feira calorentas e monótonas...

- Eu sei, e é por isso que eu acho que tu andas precisando de uma. Esse é o tipo de prazer que deveríamos evitar.

- Não há prazer que deveríamos evitar. O que há são prazeres aos quais nem sempre teremos acesso. Veja o caso das cervejas caras, das quais falei: nessa semana de tédio, gastei tanto com elas que não sei como passarei o resto do mês. Pelo menos os cafés frios continuam baratos.

- Cafés feitos em casa são ainda mais baratos.

- Cafés feitos em casa não me fazem ver vovós comprando pão às 7h da manhã.

- E isso também é um prazer para ti?

- Elas deixam minhas manhãs menos solitárias, digamos assim. Aliás, tudo que faço parece ser para deixar minhas manhãs menos solitárias...

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

“Sempre achei as paredes da casa muito brancas.”

Assim terminou minha madrugada,
com uma maçã molhada nas mãos
(para evitar a cafeína, que me impediria de dormir,
como se fizesse alguma diferença).

Sigo na expectativa de que amanheça o dia
(mais um),
na expectiva de novo,
que o novo dia traga novas coisas,
um novo ânimo,
como têm sido em todos os anteriores,
enquanto o tempo passa
para nunca mais voltar.

E aquele café velho, antes evitado,
agora parece a saída para suportar a primeira parte desse novo dia,
até quando o calor substituirá a umidade,
e o cansaço da noite sem dormir, após o banho matinal,
virá... e nos fará dormir novamente,
para que fiquemos despertos de novo na próxima madrugada,

evitando carboidratos e refrigerantes de cola,
e procurando frases de efeito em filmes antigos.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Feliz Ano Novo

foto: sahamia.multiply.com/journal

Espera, não vá embora. Venha cá, te senta aqui. Toma, beba mais um pouco, assista comigo mais um pedaço do filme.

Desculpa, por favor. Não queria que tu te ofendesses, não era minha intenção. Só queria ter-te aqui comigo essa noite, ter a tua companhia. Juro! Toma, vai... Fica aí, não vá embora. Vou pedir uma pizza para nós, o que achas? Podemos cozinhar alguma coisa. Por favor, não vá embora...

Adorei quando tu me disseste que viria me visitar! Achei muito legal da tua parte, vires aqui, em pleno reveillon! Iria passá-lo sozinho mesmo... Daí, fui ao mercadinho aqui perto e comprei essas coisas pra nós. Pensei que tu ficarias, que ficaríamos juntos essa noite...

Não, não é isso! Só queria tua companhia, de verdade. Qual a dificuldade de entender isso? Achas que um homem não pode simplesmente querer a companhia de uma mulher? Haha... Pois saiba que tenho amigos que convidam gurias pra sair e nem sequer tocam nelas... É só pela companhia num jantar, numa noite insone... Ora, num reveillon como esse! Queria que a minha companhia fosse tu, só isso...

Calma, espera. Já te disse: toma mais um pouco do vinho. Vou pedir a pizza, está bem? Deixa teus amigos lá... Sentirei mais tua falta do que eles. Venha, daqui a pouco vai começar a queima de fogos. Vai passar na TV, troca de canal. Não, fica, por favor...

Não estou pensando nada de ti, e pára de achar que os outros vão pensar... Ninguém pensa nada de ninguém, isso é paranóia da nossa cabeça. Eu prometo que não vou tentar nada, mesmo depois que essa garrafa acabar. Mal vamos conversar, tu verás: logo, ficarei em silêncio assistindo os clipes antigos que passam de madrugada, de música cult. Haha... É sério, tu verás, já disse! Ora, tua companhia basta por si, não te quero aqui para conversarmos: te quero pela tua pura e simples presença.

Vocês, mulheres, são tão complexas, ou tentam deixar tudo assim, que, quando algo é deveras simples, não conseguem entender. Só quero que tu fiques aqui, a meu lado, e nada mais: sem nos tocarmos, sem conversamos, sem nada... Quero ver o ano iniciar ao lado de alguém. Não, não tens que ser tu, mas eu gostaria que fosse... Não sei porquê. Muitas coisas não têm porquês, essa é uma delas. A vida não é cartesiana, mas é simples, ou deveria ser, pelo menos.

Ah, por favor, fica. Não estou te segurando: tua mão pode escapar da minha quando quiser. Isso é só uma súplica. Uma noite de reveillon, o que custa? Será uma noite nossa, uma noite alegre, te garanto. Eu posso fazer coisas pra te agradar, e, se tu ficares com sono, podes dormir lá no quarto. Eu durmo aqui mesmo, sem problemas (já dormi muitas vezes aqui). Posso trocar os lençóis, se tu quiseres... Dou-te até uma escova de dentes que tenho aqui, de reserva. Podes usar!

Nah... Por favor, não vá, já é quase meia-noite! Pois então, tu vais perder a celebração. Fica, e celebramos juntos! Podemos até brindar com o vinho, haha..!

Eu sei, sou muito grato pela tua visita, fiquei muito feliz... Mas ficaria mais se tu ficasses...

Por favor...

(...)

A porta está aberta. Obrigado por ter vindo, e desculpa a minha indelicadeza. Amanhã termino de ver o filme, fica tranqüila. Vou ver os fogos agora, deve estar quase começando.

Feliz ano novo.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Nascido em águas mornas,
como nascem peixes dóceis,
sem amparo ou resguardos,
sem desejos ou querências,

mas aconchegados.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Surtamos quando olhamos adiante,
além das montanhas,
por entre o ofuscar do sol,
com nossos pés dormentes de tanto caminhar;

e também quando olhamos para trás,
e vemos os obstáculos por que passamos,
nossas pegadas no barro seco,
úmido somente pelo suor que de nós escorreu pelo caminho;

e então percebemos que esse caminho ainda segue
por muito e muito,
até que nos terminemos por completo,
e percebamos que, pela chegada,
já havíamos passado há muito tempo.